Este dia vai me acompanhar por toda a vida.
Eu e um amigo decidimos viajar e nos juntarmos a outros amigos na festa no Sul. Saímos de Kiriat Shmona e chegamos ao Sul ao lado de Sderot e dos kibbutzim da região.
Tinha, como que, uma sensação não muito boa.Disse ao amigo que estava comigo, veja estou com uma sensação ruim e espero que não haja confusão.Disse-me para esquecer, viemos para nos divertir e não pense mais nessas coisas.. Pensei, tenho que me desligar de todos os pensamentos ,já estou aqui, então, devo aproveitar.
Chegamos à festa e havia um ótimo ambiente, todos felizes e dançando. Aproximadamente às 5:30 da manhã meu amigo disse-me: “Adi, o que você tem?, esqueça e aproveite, e fique comigo”. E eu sinto que algo não está certo, e repito-lhe isto.. Não passa uma hora, e nós entramos em um pesadelo, começando pelas sirenes.
6:30 da manhã começa o filme da minha vida. Nos bombardeiam sem interrupção, e meu amigo começa a ficar muito pressionado, correndo de um lugar para outro. Eu tento acalmá-lo e digo-lhe que tudo está em ordem, pois ,realmente, até aquele momento tudo estava em ordem.
O que são foguetes para nós? Somos de Kiriat Shmona, já passamos por isto, começamos a caminhar em direção a saída para procurar o carro. Olho para o céu e vejo dezenas de drones ainda distantes, mas se aproximando. Digo a mim que são israelenses passeando. Por causa dos foguetes eles com certeza querem pousar em um campo aberto. Encontro meu carro, subo nele , e começo a ouvir rajadas de tiros.
"O que são foguetes para nós? Somos de Kiriat Shmona, já passamos por isto."
Ainda não compreendo direito o que ocorre, e viajo em direção à saída. No caminho, todos abandonam seus carros e correram para todos os lados. Eu consigo chegar até a estrada onde está um guarda que me sinaliza para virar para a direita e não para a esquerda. Digo-lhe que o Waze me diz para virar para a esquerda para chegar em Kiriat Shmona. Ele responde:: “amigo, não pode ir para a esquerda, vá para a direita”. Eu saio para a direita, viajo algo como 700 metros, então o Waze diz-me para fazer meia volta pois não há outro caminho. Eu retorno ao meio da estrada e começo a viajar.
No caminho vejo carros tombados, pessoas deitadas no chão e ainda não compreendo o que ocorre até que o carro na minha frente para, a porta do motorista abre-se e simplesmente o motorista cai na estrada com um bala na cabeça. Neste momento meu amigo, desesperado, diz-me para continuar a viajar.
Eu grito com ele e digo para ele se acalmar para eu poder entender o que ocorre.Tudo isto demorou segundos que pareciam uma eternidade. Um rapaz pula no meu carro e pede ajuda. Estava todo ensanguentado gritando: “terroristas”. Eu abro a janela e converso com um rapaz que estava com o carro ao lado do meu, e dizemos que temos que ajudá-lo. Não acabamos a frase, e algumas peruas com muitos terroristas começam a atirar sobre nós de todos os lados
.Consigo fazer meia volta e continuo a viajar rapidamente ao mesmo tempo que continuam a atirar em nós. Encontramos terroristas por todos os lados, mas, conseguimos, por milagre, atravessar este lugar.
Ainda consigo entrar no grupo da família (WhatsApp) e escrever que eu amo todos, me desculpando. Imediatamente apago e não envio nada, pois não sabem que estou aqui, e não devo deixá-los preocupados.
Pensei que não devo deixar estes terroristas, que os odeio, me matarem.
Compreendo que devo manter a calma e, então, envio uma mensagem para o grupo de amigos. Paro o carro ao lado de um espaço protegido. Ligo para uma amiga que estava muito preocupada quando começaram a cair os foguetes. Preciso levá-la, junto com seu namorado, comigo em meu carro.
Ligo para ele e tento dizer que os terroristas estão aqui, respondeu-me que já sabia , que estão fugindo, que eu deveria fazer o mesmo e desligou a chamada.
Continuo a viajar sabendo que se tiver que sair do carro devo cuidar apenas de mim, pois o amigo que está comigo perdeu o autocontrole e em um instante posso perdê-lo.
Chego a conclusão que não há alternativa, devo continuar a viajar e entrar no kibbutz ao lado. Mas, o portão estava fechado, não havia entrada. Continuo a viajar, mas, os carros que viajam em minha direção tentam parar-me avisando para não continuar, pois havia também terroristas nesta direção.
"Quero que todo mundo saiba que passamos por um holocausto, não há outra forma de descrever. "
Todos os espaços protegidos estavam cheios de pessoas, assim, continuo a viajar e por milagre de D´us, Rei de todos os reis, consigo sair desta área e chegar até Netivot. Escondo-me por uma hora, até que meu amigo que lá mora responde.
Continuo viajando para sua casa, mas o filme não termina aí. Também lá encontramos a confusão. Mas, graças a D´us estamos aqui para contar sobre o milagre que aconteceu. Não há outra forma de explicar. Estou vivo e isto não é óbvio. Obrigado a D´us.
Quero que todo mundo saiba que passamos por um holocausto, não há outra forma de descrever. E que ninguém me conte histórias que no final venceremos. Perdemos, derrota esmagadora, irmãos e irmãs nossos foram assassinados e sequestrados. Nossa alma foi morta, a única forma que talvez nos permita perdoar aqueles que estão nos altos postos, que nos abandonaram, é construir a cidade “nova” ( nome do evento ) neste lugar amaldiçoado chamado Gaza. Valorizem a vida, amem a vida, perdoem, tenham pena, digam a todos que vocês os amam sempre. benção.
Adi B.