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Testemunhos de sobreviventes

Leia a seguir

Não tínhamos certeza se haviam sido sequestrados, mortos, se fugiram, ou conseguido

Agam Y.'s story

Tinha certeza que se saísse do abrigo, me depararia em território ocupado pelo Hamas

As minhas 7.10


Chegamos na festa, eu, Itamar (meu namorado), Alon, Segev e Ayelet(amigos do Itamar) ao redor das 5:30 da manhã. Quando chegamos dividimo-nos e eu fiquei com meus amigos que tinham chegado em outro carro, do sul. A festa acontecia como planejado. Tudo estava bem.


Algum tempo passou e estava falando com a Geffen (uma de minhas amigas),que diz estar a receber muitas mensagens do aplicativo HML sobre a sirena Tzeva Adom (sirena que anuncia lançamento de mísseis da faixa de Gaza). De repente, começamos a escutar o lançamento de foguetes e começamos a vê-los sobre nós. Tudo isto aconteceu uma hora depois de chegarmos à festa. Chamei imediatamente o Itamar e perguntei-lhe onde estava. Ele já estava a caminho em minha direção com nossos amigos.


Vi-o, o abracei, e começamos a dirigir-nos para o carro. Meu telefone acidentalmente discou para minha mãe, sem que percebesse, e a acordei. Ela imediatamente chamou de volta perguntando porque liguei.. Disse-lhe que havia alarmes e foguetes por aqui, e que iríamos tentar e nos dirigir para fora desta área.


rockets launching over NOVA party

Tirei uma foto para um amigo das interceptações do sistema antiaéreo Cúpula de Ferro e das pessoas correndo. Hoje descobri que alguém que aparece nesta foto esteve comigo no abrigo mais tarde. Entramos todos no carro e nos dirigimos para a estrada principal. Estava caótico pois todos estavam tentando fugir. Finalmente voltamos para a estrada principal para voltar para o norte. Os policiais estavam bloqueando a estrada para o norte, assim, pudemos apenas nos dirigir ao sul. Depois de dirigir por um tempo, disse-lhes que no cruzamento do kibutz Reim existia uma parada de ônibus e uma Migunit ( um pequeno bunker sem porta que foi instalado nas estradas perto da faixa de Gaza). Pensei que o mais sábio era esperar no abrigo para que os mísseis não nos atingissem e aguardar que as coisas se acalmassem. Nunca imaginei a possibilidade que centenas de terroristas pudessem atravessar a fronteira para matar, violar, degolar, queimar e massacrar milhares de civis.

Entramos no abrigo e devagar diversas outras pessoas começaram a chegar. Quando havia uma sirena entravamos no abrigo, e, quando não havia, permanecemos do lado de fora.


Disse a mim mesmo: “Não acredito que os moradores do Otef( região em volta de Gaza, e seus assentamentos em volta da faixa de Gaza) vivem assim, desse jeito, durante toda suas vidas”. Estávamos de bom humor, rimos e conversamos um pouco.


De repente começamos a escutar tiros vindos da direção de Gaza, e não compreendíamos o que estava acontecendo. Um amigo, muçulmano local, que tinha chegado recentemente, estava conosco na Migunit. Segundo ele, que estava patrulhando a área, houve provavelmente uma invasão terrorista.

"Pouco a pouco começamos a escutar os terroristas se aproximando a pé, de motocicletas e caminhões, atirando e gritando."

Alguém veio até a Migunit e disse que sua tia o chamou e contou para não se dirigir ao sul porque os terroristas estavam atirando em todos os carros. Nesta hora compreendemos que tínhamos que ficar na Migunit. Havia dois ninhos de vespas, terra, lixo e fezes humanas dentro. Depois de alguns minutos, um soldado da unidade Nahal de retaguarda chegou, Aner (pronuncia-se Ah-ner) informou-nos que seus amigos tinham dito que terroristas invadiram a fronteira, mas que tudo ficaria em ordem pois estavam relativamente longe dela. Adicionalmente, disse que a base de Reim não fica longe e é uma das maiores bases do país, assim deveríamos tentar permanecer calmos. Eu perguntei: “Então porque escutamos os tiros tão perto?” Aner respondeu que estavam atirando em uma área aberta e por isso escutamos os tiros relativamente perto. Tentei permanecer otimista. Algum tempo se passou e de repente disse-nos que eles estão chegando mais perto e que estão na próxima saída à esquerda da estrada que vai para o sul. Ele estava em contato com alguns amigos de sua unidade.


Todos estavam amontoados no abrigo, da melhor forma possível, éramos 25 pessoas nesta pequena área. Estava no canto esquerdo do abrigo com o Itamar muito próximo a mim. Pouco a pouco começamos a escutar os terroristas se aproximando a pé, de motocicletas e caminhões, atirando e gritando.


Aner, sendo EXTREMAMENTE VALENTE, e estando o mais próximo da entrada, assumiu a responsabilidade de em caso de nos jogaram granadas , ele tentaria devolvê-las no máximo que conseguisse.Pediu também ajuda aos que estavam junto dele para as jogarem de volta, caso não conseguisse fazê-lo. Desde o momento que escutei as vozes dos terroristas, sentei no chão, fechei meus olhos e ouvidos. Itamar pediu para alguém que estava sobre mim, do meu lado direito, para sair de cima, pois estava a sufocar-me.. Compreendemos que algo ruim estava para acontecer, e sussurrei para mim mesmo “Shhhh” durante todo o tempo para acalmar meu coração que estava disparado em 200 batimentos por minuto. Tentamos permanecer o mais silenciosos possível neste abrigo lotado de pessoas. Escutamos os terroristas se aproximando da entrada quando alguém disse: “ Comece a dizer o Shema Israel”, que é uma oração.


"Os terroristas então começaram a lançar granadas, e granadas de impacto, e também lançaram um foguete RPG na Migunit."

Depois disto escutei o cara muçulmano sair e gritar-lhes:”Eu sou muçulmano, eu sou muçulmano”,”não os machuquem” , houve gritos entre eles e não sei o que lhe aconteceu. Os terroristas então começaram a lançar granadas, e granadas de impacto, e também lançaram um foguete RPG na Migunit. Algumas das granadas de impacto explodiram dentro do abrigo, e tudo então passou em câmera lenta, algumas das explosões ocorreram perto da entrada, outras logo do lado de fora da entrada e algumas pessoas conseguiram jogar algumas granadas para fora. Disse para mim mesma:”Não quero morrer, não quero morrer”.


Isto continuou por 8 a 11 granadas. Aner demonstrou alguns dos instintos mais loucos e atos heroicos possíveis jogando a maior parte das granadas de volta, incluindo uma granada normal. Uma ou outra pessoa também jogaram uma ou outra granada para fora. Mas uma explodiu dentro. Na explosão senti que estava passando por um tipo de morte. Senti que meu corpo estava se transformando em uma criatura pequena, como se alguém estivesse me dobrando por dentro , e que estava sendo sugada para um espaço negro. Não escutei ou vi nada, mas senti -me em paz e apenas imaginei o que ocorria na morte e quando iria ver minha vida passar diante de mim.Literalmente senti meu corpo parar, não senti nenhum batimento. Escutava vozes dentro da minha cabeça, de diversos tipos, que pareciam como espíritos sussurrando-me coisas diversas. Senti que não tinha mais um corpo, e que tudo tinha se encolhido em um nada.


"Disse para mim mesma: ”Não quero morrer, não quero morrer”.

Eu vi e senti um grande ponto da minha cabeça subindo. Parecia minha alma. De repente pude escutar o Itamar ecoando em minha cabeça e a dizer:“Fique comigo, fique comigo”.Digo-lhe : “Itamar, estou morrendo”, Ele diz:“Você não está, você está comigo”. Quando perguntei: “Pode escutar-me?” Ele disse: “Sim, beleza, estamos bem”. Disse-lhe novamente:”Não consigo aguentar, estou morrendo”. Repetiu-me diversas vezes as palavras:”Você está comigo, fique comigo”. Digo-lhe: “Temo que se eu voltar agora, não conseguirei voltar a ser quem sou”. Itamar quase não escutou minhas palavras e pediu-me para permanecer com ele. Então senti minha alma retornar. Abri os olhos e, além de poeira laranja, não vejo nada. Havia muitos gritos, pessoas mortas e seriamente perturbadas. Alguém gritou que uma mulher perdeu uma mão. Cerrei meus olhos novamente. E, novamente, escutamos os terroristas vindo. Eles começaram a gritar. Não recordo o que aconteceu antes - o sequestro de pessoas ou o massacre deles atirando. Penso que foi o sequestro. Os terroristas levaram pessoas, os arrastaram e disseram para que saíssem.


"As pessoas estavam gritando, sangrando e morrendo."

As pessoas gritaram que não iriam sair e tentaram lutar. Então tentaram falar com eles em árabe e inglês, e disseram “Salam” (paz) e “por favor, não”. Tentei não me destacar tanto quanto possível. Uma das moças que tinham levado voltou ao abrigo mais tarde, pois não tinham mais lugar para ela no caminhão, e, assim, conseguiu sobreviver. Mais tarde descobri que Alon também foi sequestrado. Depois disto, os terroristas entraram e atiraram para todos os lados. Tentei encolher o máximo que pude e fingi-me de morta.Abri os olhos novamente e verifiquei que o Itamar estava vivo e do meu lado... Itamar diz: “Minha querida, eu recebi uma bala na minha mão” e imediatamente apertei embaixo do ferimento aberto, sem pensar duas vezes, não me importando o quanto estava lhe está doendo.. Para parar o sangramento. Durante todo este tempo os foguetes continuavam a cair do lado de fora e os terroristas atirando em quem estivesse desse lado. As pessoas estavam gritando, sangrando e morrendo.


Uma bala perfurou o braço do Itamar de um lado ao outro. Eu recebi uma bala na perna que provavelmente atingiu uma parede ou algo similar na minha frente, pois tinha um buraco na minha perna, mas não muito grande.


Depois disto tirei todas as jóias que possuía, pois lembrei-me que você não devia usá-las em casos deste tipo, mas elas já me tinham queimado. Eu apenas esqueci de tirar o bracelete que a minha mãe me deu antes de entrar no exército, porque nunca o tirava.Também queimava , mas estou feliz por ele permanecer.

Deste momento em diante, tentamos ficar quietos o quanto possível para que os terroristas não voltassem e nos matassem. Toda vez que escutamos vozes do lado de fora do abrigo, abaixavamos as cabeças sob nossos corpos e fingiamos de mortos.Retirei todo o sangue do rosto, tirei minha camisa e a rasguei com os dentes. Tentei fazer um torniquete ao Itamar, mas não fui capaz e a minha camisa acabou rasgando. Itamar pressionava sobre o ferimento tanto quanto podia. A princípio pensávamos que ele tinha apenas um buraco na mão, mas depois vimos que havia dois. Todo este tempo, havia corpos em nossos pés que não nos permitiam mover. Nossos amigos e a maioria das pessoas com quem,apenas uns momentos antes, conversávamos e riamos,estavam agora prostrados ao nosso lado.


Neste momento, Itamar não conseguia mais ouvir devido a todas as explosões. Durante estas horas , toda vez que ouvíamos alguém se aproximar, tentávamos verificar se estava se aproximando do abrigo ou estava apenas a andar do lado de fora. Escutamos dúzias de terroristas aproximando, falando e gritando. As cinco pessoas que estavam próximas da saída do abrigo tinham rede no celular e tentaram chamar e pedir por ajuda através de seus amigos e da polícia.Chamaram a polícia umas vinte vezes. No início a polícia não acreditava em nós, depois disseram que não podiam ajudar. De seguida, que estavam vindo, e isto nos deu alguma esperança, mas não vieram.Tanta coisa estava acontecendo ao nosso redor que desconhecíamos. Durante todo este tempo, tentamos permanecer em silêncio para que os terroristas não entrassem no abrigo.


"Depois, quando pude mover-me, entendi que sim ainda tinha a perna, e o que achava ser a minha perna era na verdade parte do corpo de outra pessoa que estava sobre mim. "

Nossas pernas estavam sob os corpos, e tinha certeza que não tinha mais uma perna. Depois, quando pude mover-me, entendi que sim ainda tinha a perna, e o que achava ser a minha perna era na verdade parte do corpo de outra pessoa que estava sobre mim. Algumas horas depois, escutamos um veículo grande se aproximando e pessoas saindo. Escutamos um som e alguém disse: “Eles são o pessoal da Magen David Adom ( o equivalente israelense da Cruz Vermelha)”, dividam-se em duas linhas. Não atirem em nada que se mova pois podem haver pessoas ou veículos nossos por aqui. Concordamos unanimemente em não sair do abrigo no caso desses não serem realmente israelenses.


Pouco depois começamos a escutar tiros. Não sei dizer se eram tiros dos terroristas ou das Forças Armadas de Israel, mas os tiros sempre vinham da direção da migunit. Esperamos dez minutos e depois outros vinte. O tempo não passava e ninguém veio. Durante este tempo tentamos permanecer otimistas e respirar profundamente, sorrir uma para a outra. Não tínhamos nenhuma água, todas nossas garrafas explodiram pelos tiros. Itamar e eu seguramos fortemente o ferimento todas as vezes que o sangramento recomeçava.


Depois de uma hora, aproximadamente, escutamos alguém do lado de fora dizendo: “Irmão, você tem um carro?”. Seu amigo respondeu: “Não consigo achar as chaves” com o sotaque mais israelense possível. Ainda assim, não nos permitimos sair porque temíamos que não fossem realmente israelenses. Depois de dez minutos escutamos duas pessoas falando em árabe, eram provavelmente terroristas. Tento sempre pensar como um guerreiro, o que ele faria em um momento como este, pensei em meu irmão, ou tentava entrar na cabeça(forma de pensar) do terrorista.Entendi que não havia razão para que eles verificassem uma morte, pois certamente queriam matar o maior número possível de pessoas. Algumas horas mais tarde, Itamar disse-me que achava que seu telefone estava debaixo de mim em algum lugar. Olhei, e o achei.Segurei-o e vi que estava cheio de sangue. Limpei -o com minhas roupas, mas não tive sinal de recepção por muito tempo. Não compreendemos o que estava ocorrendo do lado de fora, sentíamos uma completa impotência e falta de conhecimento da situação. Tinha certeza que se saísse do abrigo, me depararia em território ocupado pelo Hamas. De repente, por um segundo, começamos a receber mensagens pelo telefone.



Agam and Itamar bloody and hiding

Mensagens de pessoas preocupadas que pensavam que estávamos a salvo em Tzeelim ou Saad conforme listas falsas que foram distribuídas. Não podíamos responder porque quase não tinha recepção, mesmo assim enviamos mensagens e fotos para minha mãe, para o pai do Itamar e amigos do Itamar endereçadas ao exército, junto com informações pessoais, para que em caso de sucesso no envio, eles pudessem entender que éramos nós e não o Hamas. Perguntamos para quem estivesse o mais próximo da entrada do abrigo para segurar o telefone por alguns minutos, mas as mensagens não foram enviadas. Muitas pessoas, amigos do Itamar e meus e as nossas famílias perguntaram onde estávamos e pediram para que enviássemos nossa localização. Era difícil enviar a localização porque o sinal estava fraco e não podíamos falar ao telefone pois temíamos que os terroristas pudessem nos escutar. As outras pessoas que estavam conosco no abrigo não queriam que falássemos no telefone.


"Levantamos nossas cabeças e todos começaram a chorar."

Tentamos explicar que estávamos tentando ser resgatados.Entretanto, dezenas de carros passavam por nós. Escutávamos ocasionalmente tiros isolados, diversas explosões e sirenes da Tzeva Adom. Tentamos escrever nossa localização para o maior número de pessoas possível, para explicar nossa posição e a quantidade de pessoas que estavam conosco. Em um certo momento, escutei uma mulher gritar. Penso que era do kibutz. Também escutei sons estranhos, vindos de fora, de alguém andando perto da entrada do abrigo ou de algum animal, parecia ser o som de alguém rasgando jornais ou de alguém arrastando galhos e árvores para a entrada do abrigo. Neste momento, disse ao Itamar que temia que nos fossem atear fogo. Cada segundo era importante. Após, mais ou menos meia hora, um carro chegou e então escutamos passos. Fizemos o que sempre fazíamos quando escutávamos passos, nos fingimos de mortos. Um segundo passou. Vimos uma mão que colocou um celular para dentro do abrigo mas rapidamente o retirou caso houvesse terroristas dentro. Depois olhou para dentro e perguntou se havia alguém.. Levantamos nossas cabeças e todos começaram a chorar.


Tinha conhecimento de sete sobreviventes, incluindo-me e ao Itamar Penso que além dos dois , que estávamos feridos, os outros cinco não estavam seriamente feridos fisicamente, mas tenho certeza que foram afetados mentalmente. Quem pode andar - deixou o abrigo a pé. Todo o abrigo estava cheio de granadas e corpos, sangue e órgãos; havia um cheiro terrível e muitas moscas. Não sabíamos se as granadas poderiam explodir a qualquer momento ou se elas já tinham explodido. Eu e uma outra moça não conseguimos nos levantar. Minha perna doía terrivelmente do impacto da bala. Consegui retirá-la de debaixo dos corpos, mas não consegui levantar-me pois outras pernas de sobreviventes também estavam debaixo dos corpos.

Segurei sua mão e disse-lhe estavamos juntas e que tudo iria ficar bem. Enquanto isto acontecia, escutamos tiros do lado de fora e tememos que iriam nos atingir novamente e que não pudessemos sair vivos de lá.. Eli (pseudônimo), que era um civil, e outra pessoa, um coronel, disseram que tudo iria ficar bem.


"Todo o abrigo estava cheio de granadas e corpos, sangue e órgãos; havia um cheiro terrível e muitas moscas."

O coronel colocou-me no carro estando eu sem meu top.Deu imediatamente uma camisa e uma toalha para cobrir-me pois estava com os seios à mostra. Quando nos tiraram de lá, não olhei nem para a direita nem para a esquerda.

Meu olhos estavam fixos somente no carro.Levaram-nos para um posto de gasolina no cruzamento de Beeri onde os sobreviventes e feridos estavam sendo reunidos. Enquanto o Eli estava dirigindo, perguntei-lhe se havia um terrorista vivo quando eles chegaram no nosso esconderijo ou se era um de nossos soldados.Disse que era um terrorista. Foi bom que não saímos do abrigo quando escutamos eles conversarem em hebraico.Todo o caminho, vimos carros abertos e pessoas mortas ao lado. Senti que estava em um filme de horror. Quando chegamos ao centro de feridos, no cruzamento de Beeri, disseram ao Eli para nos evacuar urgentemente para o hospital Soroka.


Quando chegamos ao Soroka, alguém me tirou uma foto, um dos médicos/enfermeira.. Senti-me muito desconfortável e comecei a gritar para ela parar de tirar fotos.Informam-nos que era somente para identificação, mas não me importava. Depois disto, cuidaram de nós muito bem, e fizeram de tudo para que nos sentíssemos bem. Minhas mãos estavam cerradas, todos meus dedos estavam grudados, meu corpo estava tremendo e contraindo do trauma que não me abandonava.Lá atrás, durante todo o tempo, Itamar protegeu-me com o seu corpo. Nos escondemos atrás dos corpos dos mortos. Itamar disse-me para sorrir durante todo esse tempo e que tudo iria acabar bem.


Eu e Itamar temos o costume de juntar nossos dedos mindinhos, significando uma promessa, quando queremos que algo aconteça. No início do evento, Itamar fez uma promessa que iríamos sair dessa vivos e que não podíamos perder a esperança nem por um momento. Senti que as pessoas estavam rezando por nós, mas não tinha uma esperança real que fossem nos achar pois parecia que nenhuma das forças de socorro se importava. Estávamos certos que iríamos morrer sem comida e água. Agora que estou em casa, tentando recuperar de tudo e enfrentando o trauma que vivi.Sempre que escuto o menor ruído, um carro passando ou outro barulho similar, olho para os lados para me assegurar que tudo está bem e que estou protegida.


Mesmo agora quando estou escrevendo minha estória há mais de cinco dias, toda vez que me lembro de um pequeno detalhe, meu coração acelera para 200 batimentos por minuto, e o corpo treme todo.


Tenho somente vinte anos. Por favor, digam-me se faz sentido tudo que passei, somente por querer viver confortavelmente em meu país, e que terei que conviver com este trauma por toda a vida.

É verdade que sou normalmente ativa nas redes sociais, mas nunca compartilhei tanta informação, sentimentos e fraquezas sobre mim. Sei que é importante que o mundo saiba o que passamos, e que também é-me importante processar a informação e aceitar tudo o que passei. Não consigo acreditar que já se passaram vários dias, parece que foi ontem. Estamos agora rodeados de pessoas que nos amam e estão felizes que sobrevivemos miraculosamente.


Aner Shapira da unidade Corvo do Nahal salvou nossas vidas e merece um obrigado especial por ter sido nosso anjo da guarda.


Itamar perdeu dois amigos próximos e um outro foi sequestrado. Está com diversos estilhaços em sua face e teve uma bala que lhe perfurou a mão. Passou por uma cirurgia, e está esperando por outra. Seus tímpanos romperam-se. Tenho estilhaços na cabeça, pescoço e costas. Tenho bolhas nas mãos e um buraco na perna de uma bala que não conseguiu penetrar meu sapato. Perdi muito cabelo tanto pelo trauma como pelo sangue e poeira que grudaram nele. As pessoas que me conhecem sabem quanto me importo e sou sensível com o meu cabelo, e como isto me é difícil.


Claro que sou agradecida por poder respirar,e por ter-me sido dada uma nova vida. No total estivemos no abrigo por sete horas, das 7:20 da manhã até às 14:19, indefesos, sem comida e água.


Ssinto a dor das famílias de todos os que foram assassinados. Espero e rezo que os sequestrados voltem logo para casa.


Ayelet Amin, Segev Israel Kizner, Aner Shapira, T.N.C.B.H.


Aloni, espero que volte logo para nós, sua família e amigos que te amam, saudável e inteiro, e que permaneça otimista e aguente firme.

Em minha estória existem várias lacunas. Não contei várias coisas que as pessoas não precisam saber ou que não é minha decisão se devo ou não compartilhá-las.Não vi tudo, fechei os olhos a maior parte do tempo que os terroristas estiveram perto de nós.

Sei que esta não é apenas a minha estória, mas também a estória dos que foram assassinados, sequestrados e dos sobreviventes. Contudo, essa é a forma que vi, ou não vi, os acontecimentos.

Se puderem, compartilhem minha estória para que o maior número de pessoas no mundo entendam o que estamos passando em Israel.



Agam Y.


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