Eu sinto que este post é necessário, e é bom que o escreva logo.Sei quanto todos esperam por um pouco de informação. O que passamos e como os que se salvaram conseguiram sobreviver..Acredito que todos que estiveram lá devem falar sobre isso o máximo possível para que possam lidar com a loucura que aconteceu.
Tudo começou de manhã, e até então estava ótimo. Uff! Estava muito bom, todos dançando, felizes e sorridentes comemorando a vida. Ao redor das 6:15 começaram os foguetes sobre nós. Noam pergunta: “ Vocês escutam? É o sistema de defesa antiaéreo”. OK, está em ordem… Com o sistema antiaéreo estamos bastante acostumados. Depois de dois minutos a música parou. Eden chega e grita para nós, que estamos muito acomodados, e, ainda sentados “Vamos acordem, isto é um alerta!!” OK… acordamos e fomos na direção da saída.
Deitamos no chão e vimos as interceptações, rezamos para que isso passe rapidamente, mas ainda não entendemos a ordem de grandeza do que ainda iria acontecer. Depois de alguns minutos, os guardas do festival começaram a retirar todos do lugar pedindo que se dispersem. E nós? Ainda não entendendo o que realmente estava acontecendo. Dissemos, OK, esses são foguetes, as coisas vão ficar em ordem…
Meio acomodados e meio amedrontados voltamos para o camping e começamos a recolher nossas coisas. Que sorte tivemos de não sair nesta hora, pois muitos já tinham fugido e infelizmente não estão mais entre nós. Depois de juntar tudo fomos em direção ao estacionamento onde procuramos nosso carro por 10 minutos. Procuramos o carro e não achamos. Era um estacionamento gigante, todos estressados e começando a fugir. Depois de 10 minutos achamos o carro, carregamos as coisas e começamos a viajar.
Congestionamentos gigantes na saída da festa e quando chegamos na encruzilhada onde deveríamos virar na direção norte, vemos muitos carros voltando desta direção, todos dizendo para não irmos para o norte, e sim para a outra direção - sul. Viramos à esquerda e quase não nos movemos devido a grande quantidade de carros. Depois de um minuto, um carro chega em alta velocidade, para a alguns metros de nós, e de dentro do carro saem algumas pessoas gritando que tem alguém ferido, que recebeu um tiro de terroristas.
Talvez, fosse nesta hora que começamos a entender o que ocorria ao nosso redor. Começamos a escutar tiros, havia alguns guardas que demonstravam medo à nossa frente. Assustados tentavam manter a calma para que todos os participantes da festa que não sabiam o que fazer, para onde ir, todos estavam impotentes. Nos disseram para sair dos carros e para correr para os campos abertos.
Pessoas voltaram de trás gritando que estavam atirando neles. Para onde corremos? Será que é mais seguro do que esperar? Onde se esconder? Não tínhamos ideia do que deveríamos fazer. Começamos a correr, e durante a corrida escutamos tiros vindos de trás, dos lados. Não sabíamos para onde correr e o que fazer. Simplesmente, continuamos indo para frente durante 4 horas! Meu Deus, agradeço pelas forças que Você me deu para continuar a correr e não desistir!
Obrigado por todos os milagres que fez comigo no caminho.Durante todo o caminho, rezamos pela vida de todos e gritando por não haver ninguém que pudesse nos ajudar. Quanta frustração e quanta impotência sentimos naqueles momentos. Onde estão os helicópteros? Onde está nosso exército? Onde está a polícia? Onde está a ajuda que necessitamos? O que está ocorrendo aqui??? Não sabíamos que todo o país tinha entrado em uma guerra séria, que a ordem de grandeza das coisas era em nível que não podíamos aceitar.
Depois de 4 horas, aproximadamente, chegamos em uma estufa, estávamos muito desidratados. Houve um momento que temia que iríamos morrer desidratados antes dos tiros dos terroristas. Na estufa descobrimos uma torneira d´água, bebemos e pessoas começaram a se concentrar ao nosso redor. Todos com uma preocupação que nunca tinha visto em minha vida.
Neste instante um guarda chegou, mas, ele não conseguia dar respostas ou dizer o que iria acontecer conosco. Depois de uma hora, uma pickup chegou e levou aproximadamente 20 pessoas.Disseram-nos que tinha um assentamento perto, a uns 7 quilômetros, que se chama Patish.“Comecem a andar para lá, é mais seguro”, disseram-nos.
Começamos a andar, mas ainda escutamos tiros atrás de nós durante todo o tempo. Depois de andarmos por uma hora chegou um carro civil que nos levou para este kibutz .Aí já estava mais seguro. Nos salvamos neste dia, por milagre! Não consigo imaginar o que passou com os que foram assassinados, com os desaparecidos ou sequestrados. Meu coração está com todas as famílias que perderam seus entes queridos e aqueles que ainda os estão procurando.
Com a ajuda de Deus, esperamos que ouçamos muitas boas notícias e que tenhamos dias melhores. Obrigado a todos aqueles por se preocuparem comigo, eu os amo e agradeço a Deus que estou aqui e agora registrando para vocês minha estória dentro da chacina que ocorreu. Pelo visto, todos ficaremos marcados por cicatrizes devido a estes dias e como aceitar tudo que aconteceu? Com certeza, vai levar ainda levar tempo.
Galit K.