Às 6h30, estou com amigos no estacionamento do lado de fora da festa. Planejamos sair para beber e voltar. Estou olhando para o céu e vendo um dos nasceres do sol mais lindos que já vi… e, então, luzes no céu. Por um momento, não entendi... até que entendi.
Dezenas de mísseis e interceptações sobre nossas cabeças. Percebemos que a festa havia acabado e que haveria uma grande quantidade de gente saindo da festa. Uma experiência estressante, mas na realidade ilusória em que vivemos( em Israel) é uma experiência “assimilável ”. Dito isto, não creio que alguém pudesse adivinhar que tipo de evento estávamos enfrentando.
Rapidamente arrumamos nosso acampamento e a malta (grupo( se separou. Eu estava no carro de uma amiga e ela estava dirigindo. Tive um mau pressentimento e só queria sair dali. Olhei para os seguranças e vi que eles não tinham ideia do que fazer. Um deles sugeriu que nos dirigíssemos em direção a Beit Kama, então é o endereço que colocamos em nosso aplicativo Waze.
“Vimos mais carros perfurados(por balas) voltando de onde viemos e pessoas sangrando sinalizando para outras pessoas”
Saímos do estacionamento lotado e viramos à direita. Dirigimos por 30 segundos até que vimos um carro perfurado por bala dirigindo na direção oposta e uma multidão correndo em direção ao abrigo antiaéreo na beira da estrada.
Paramos o carro no meio da estrada e entramos em um dos abrigos. Havia cerca de 40-50 pessoas reunidas. As pessoas estavam com medo. Provavelmente uma granada foi jogada neste abrigo mais tarde, e todos que estavam lá foram massacrados, então esse seria o nosso destino se ficássemos lá.
Depois de um ou dois minutos, eu disse à minha amiga que não podíamos ficar lá e peguei as chaves do carro e corri com ela de volta para o carro. Ouvimos tiros lá fora. Liguei o carro, dei meia-volta e segui na direção oposta. Dirigi cerca de 500 metros até que a estrada ficou bloqueada por todos os outros carros que tentavam sair. Vimos mais carros perfurados voltando de onde viemos e pessoas sangrando sinalizando para que outras pessoas que,ainda estavam saindo da festa, virarem à direita.
Abandonamos o carro. Deixe-o lá e simplesmente corremos, primeiro na estrada e depois nos campos. Ao fundo, ouvi tiros e pessoas não sabendo o que fazer. Não sabíamos realmente para que direção estávamos correndo, simplesmente vi pessoas correndo e não levando tiros, então as segui.
Tentamos navegar nos campos abertos. Cada vez que ouvíamos tiros, corríamos na direção oposta. Éramos cerca de 300-400 pessoas, um verdadeiro êxodo.
Caminhamos e corremos cerca de 20 quilômetros, até chegarmos aos arredores de Patish, com explosões sobre nossas cabeças e terroristas atrás de nós. Os mísseis nem nos incomodaram porque simplesmente estávamos olhando em volta, nos assegurando de que não estávamos sendo atacados por um terrorista.
“Sabíamos que havia terroristas no Kibutz Be’eri e em outros lugares da região”
Durante a fuga, recebemos muitas ligações de celulares de amigos e familiares preocupados com nossa segurança, tentando entender onde estávamos e nos aconselhando o que fazer.
A certa altura, coloquei o telefone em modo silencioso e disse que preferia saber o mínimo possível sobre a situação no país. Prefiro que nossos preocupados familiares e amigos saibam o mínimo possível até que estejamos seguros.
Entendi que estávamos sozinhos e que dependíamos de nós mesmos; meus pensamentos naquele momento eram que o estado não existia e que estávamos em um Armagedom. Quem virá atrás de nós agora?
Sabíamos que havia terroristas no Kibutz Be’eri e em outros lugares da região. Portanto, confiamos principalmente em nosso instinto. As pessoas estavam em pânico, com muita adrenalina e estressadas, tentando decidir se ficavam, se escondiam ou continuavam andando. Cada pequeno barulho te coloca em alerta e deixa-te paranóico. Cada informação afeta nossa próxima decisão, se continuar andando e para onde.
Nós apenas continuamos andando, até chegarmos a uma área de estufas onde nos disseram que deveríamos nos esconder. Alguns permaneceram lá, mas a maioria de nós continuou andando. Após cerca de 3 horas, vimos carros israelenses, provavelmente pessoas de Patish. Vieram dizer-nos para continuarmos a caminhar por certo caminho e que ali era seguro.
Chegamos depois de 4 horas. Eles acolheram-nos e nos deram água e comida, como refugiados de guerra. Depois de uma hora ou uma hora e meia supertensas, todos estavam confusos e principalmente chocados e começando a entender o que havia acontecido.
"Você apenas tenta descobrir como sair vivo"
Embarcamos em um ônibus que foi enviado para Be’er Sheva, e de lá fomos de carona direto para casa com o pai (um anjo) de uma das meninas da festa. Durante todo o caminho fiquei a pensar nos amigos com quem ainda não tinha tido contato, no que aconteceu conosco e nas histórias surreais contadas por outras pessoas.
Você começa a perceber que este é um acontecimento histórico, que você está no meio dele, e o país inteiro só fala disso.Apenas tenta descobrir como sair vivo.
Só no dia seguinte percebi que tinha torcido o tornozelo e que tinha mais algumas feridas secas nas pernas e cortes no braço. Mas tudo isso não é nada comparado aos que foram massacrados , ou pior, sequestrados, entre eles tantos amigos e amigos de amigos.
Minha alma não sabe com o que lidar primeiro, com o que acabei de vivenciar ou com o que passaram meus amigos da festa que não voltaram, e as famílias que foram massacradas e os inocentes que foram sequestrados. Só Deus sabe o que está acontecendo com eles.
Sagi G.