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Testemunhos de sobreviventes

Leia a seguir

Onde quer que houvesse tiroteio, corríamos na direção oposta

Noa B.'s story

Estava a abrir a minha porta, para ajudar os feridos, quando vi o primeiro terrorista

No início, quando eu vi os mísseis voando por cima das nossas cabeças eu pensei: "Que pena". Mas quando estava de frente dum terrorista com um rifle a 20 metros de mim, rodeada por mais 6, entendi que "pena" não era a palavra certa. Talvez pavor, ou talvez só incredulidade que algo como isso pudesse acontecer no meu país.


Cheguei à festa às 02:45 da manhã. Meu trabalho era trazer um dos DJ's internacionais para sua atuação, e, até o fim dela tudo parecia ótimo, as pessoas estavam felizes, festejando, se divertindo. Quando terminou a sua atuação, fui para a pista de dança, onde podia sentir a energia de pessoas felizes ao meu redor.


Às 06:20 voltei para o palco para filmar um amigo durante seu momento musical . O último vídeo no meu telefone foi filmado às 06:28, segundos antes de percebermos que havia mísseis no céu. A situação era surreal, não tínhamos escutado nada porque a música estava tão alta, mas de repente vimos os foguetes no céu. Os próximos momentos foram assustadores, desligamos a música e gritamos para o público que haviam foguetes e todos deviam deitar no chão e cobrir a cabeça com os braços.


Fui para os bastidores do palco , éramos por volta de 20 pessoas sentadas tremendo por nossas vidas, sem ideia do que estava acontecendo. Depois de alguns minutos, alguém falou no microfone para todos saírem da área da festa o mais rápido possível, então eu disse ao DJ com que eu estava para corrermos até o carro e ir embora.

Nós fomos uns dos primeiros carros a saírem da festa, achei que tínhamos tido sorte, não sabíamos o que estava por vir. 5 minutos depois éramos por volta de 5 carros na estrada, estava no terceiro carro e a maioria das pessoas tinha parado para buscar abrigo. Eu estava tentando voltar pra casa o mais rápido possível.




Os próximos minutos são difíceis de explicar, os dois carros na minha frente frearam repentinamente e bateram um no outro. Tinha uma moto no acostamento e um homem deitado ao lado, eu achei que os carros tinham batido na moto e parado. Estava a abrir a minha porta, para ajudar os feridos, quando vi o primeiro terrorista. Ele estava 20 metros na minha frente atirando em mim como um louco.Gritei para o DJ para sair do carro e se esconder.Achei que havia soldados atirando em direção ao terrorista, mas para meu horror eram mais terroristas. Eles estavam nos rodeando, não tinha para onde ir.

As pessoas dos outros carros que ainda estavam vivas estavam rastejando em nossa direção, feridos e assustados.Éramos 5 pessoas escondendo-nos entre os carros. Eu tomei uma decisão rápida, gritei "Entra todo mundo no carro!" e sentei no assento do motorista. Eu estava com tanto medo, tinha um terrorista bem na nossa frente atirando em nós com assassinato nos olhos.

Não sei como meu corpo conseguiu tomar essa decisão de tentar sair dirigindo de lá, mas essa decisão salvou a minha vida e a de quatro outras pessoas. Diirigi em marcha ré e virei quando pude, e tinham mais terroristas esperando, carros batendo uns nos outros quando os motoristas eram baleados frente a nossos olhos, pessoas tentando correr e sendo mortas baleadas. Em 10 segundos vi mais mortes do que vi em toda a minha vida.Vi um terrorista olhando-me nos olhos a levantar sua arma para atirar em nós.No momento que comecei a dirigir em sua direção, pisei no acelerador e fui. Ele estava a uns 2 metros e quase atingiu a janela.Continuei dirigindo enquanto ainda atiraram na parte de trás do carro, e,sem olhar para trás.


Tinha duas pessoas feridas no carro, um tinha um tiro na perna e o outro na mão. Minha primeira ligação foi para um amigo, que era um dos produtores da festa.Queria dizer-lhe que havia um tiroteio na estrada para não deixar ninguém dirigir na nossa direção. Isso foi minutos antes dos terroristas chegarem na festa em si.


"Nós todos fomos só celebrar liberdade e amor e fomos deixados sangrando e com dor. "


Nos próximos 30 minutos estava completamente focada em chegar a um lugar seguro, com pessoas feridas no carro, e sem saber quão grave eram os ferimentos, mísseis ainda voando sobre nossas cabeças a cada segundo. Nós chegamos ao hospital, os feridos estavam recebendo assistência médica e eu estava sentada lá, sem saber o que mais fazer. E então os feridos começaram a chegar, meus amigos, baleados e feridos, sangrando e assustados, pessoas chorando, dizendo que viram pessoas queridas sendo mortas em frente aos seus olhos, pais procurando por seus filhos sem saber onde eles estavam. Eu passei 4 horas na emergência, tentando ajudar e acalmar as pessoas ao meu redor.


O resto da história não é feliz, consegui chegar em casa, com apenas um pequeno arranhão na minha perna apesar dos horrores que eu presenciei naquela manhã.

Meus amigos não voltaram. Centenas foram sequestradas pelo Hamas, centenas foram mortas e centenas estão desaparecidas. Nós todos fomos só celebrar liberdade e amor e fomos deixados sangrando e com dor. Não existem palavras para descrever os horrores testemunhados por nós, crianças de amor e do trance. Que todas essas almas voltem para casa sãs e salvas.


Noa B.


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