Não há palavras e imagens que possam transmitir o que passámos lá.
Este terror não termina nunca, mas, ao menos, estou aqui para contar.
Meu coração está com as famílias enlutadas e sequestradas .
Acredito, de todo o coração,que o povo de Israel vai vencer este ataque de terror.
7.10.23, Sábado
Algumas vezes você precisa ter cuidado com o que pede que aconteça, pois, podem materializar-se em sentido contrário.
Vou começar desde o dia de ontem. Não tinha forças para nada, fisicamente e espiritualmente.
Consegui licença para sair do trabalho mais cedo e durante todo o dia tentei adormecer na cama sem sucesso. Almi estava conosco e subimos para ver o por do sol do telhado. Organizei uma sacola completa com todas as coisas que preciso para me sentir confortável. Há alguns meses viajei sozinha à Índia, sinto que uma festa na natureza em Israel é coisa pequena para mim. Gal,a joven), veio buscar-nos de casa, e, também lá fechei os olhos, mas não consegui adormecer.
Chegamos na casa do Amit em Ofakim para beber algo antes da festa. O restante das jovens e Gal,(o rapaz), chegaram depois com um monte de salgadinhos para termos uma noite bem sucedida. Esperamos por esta festa por muito tempo e todos temíamos não conseguir aproveitá-la, mas ninguém reconheceu que estávamos muito cansados para uma festa na natureza.
Conhecemos todos rapidamente, pareceram tão queridos, mas não pensei que depois seriam tão significativos para mim. Gal, (a moça) e Anat providenciaram adesivos(stickers) para enfeitar nossos rostos e assim abriram um ponto de maquiagem. Saímos maquiados e bonitos para a festa.
Chegamos na festa às 4 horas da manhã. Montamos a barraca e organizamos tudo. Vesti -me com roupas confortáveis. Alma bebeu em demasia e foi dormir. Começamos a beber.Por volta das 5 horas, Amit levou-nos para dançar ao nascer do sol. Posicionamo-nos debaixo do céu, entre as duas áreas da festa e durante este processo o sol começou a subir.
Dançamos e falamos sobre que dia maravilhoso vai ser e que lindo céu, e num fragmento de segundo ele se encheu de foguetes e explosões.
Congelei no começo. Sou de Tel Aviv, não sei o que fazer nessas situações e também ainda não estava sóbria.. Nos separamos, fiquei com Amit e Gal. O restante foi acordar a Alma para arrumarmos nossas coisas. Congelei. Os rapazes acalmaram-me e eu pedi que me dissessem o que fazer. Gal, o rapaz, disse para deitamos no chão e que cobrissem a cabeça com as mãos. Senti que podia confiar nele.
Todos começaram a fugir e a correr em todas as direções. Nos levantamos e começamos a ir em direção dos carros.
Até que encontrei o carro, e Gal, o rapaz, dirigia Ao meu lado, atrás, estavam May e Alma. Noam estava no banco da frente. Ficamos presos no congestionamento. Não sabíamos que existiam terroristas e foguetes são a última coisa que deveria nos assustar. Todos estavam em pânico no carro, assim pedi que todos dessem as mãos.
Um carro todo estourado passou ao nosso lado com estilhaços dentro dele. Gal, o rapaz, perguntou-lhe o que aconteceu e respondeu que quem sobreviveu não estava nos carros. Atiraram nele. Eu ainda queria ficar, mas vi que todos estavam fugindo dos carros que estavam atrás de nós. Não vi os terroristas… Depois soube que estavam ao nosso lado. Gal, o rapaz, gritou: Agora! Vamos sair do carro! Eu compreendo que se não fizermos isso estaremos mortos.
Saímos. Perdi um sapato. Continuamos.
Caos. Foguetes sobre nós. Histeria. Medo. Explosões. Gritos. Todos correndo em todas as direções e nós ao mesmo tempo que corríamos, como em um filme, reparamos na quantidade de feridos dos tiros dos terroristas que simplesmente eliminaram todos que não fugiram a tempo. A imagem do guarda ferido na garganta não me sai da cabeça.
Corremos em um grupo grande em direção aos campos. Escutei o Gal, rapaz, gritar para corrermos em direção ao Leste! Descemos a inclinação como animais. Ao mesmo tempo que corro, reparo que Halmich não está comigo. Liguei para ela apressadamente. Nos separamos.
Após uma saraivada de foguetes, já não tenho medo deles pois sobre nós, da direção da estrada, ouvimos ruídos de tiros que passam ao lado de nossos ouvidos. Corremos histericamente de um lado a outro nos campos abertos, como patos. Eles brincam conosco, de quem irá morrer primeiro..Conversei ( por telefone ) com parentes naquela hora. Envio minha localização atual. Ligo para a polícia que nos desligam na cara. Penso que a qualquer momento isso vai acabar. Eles vão nos alcançar.
Correndo por algumas horas, sentimos que estamos em um jogo de computador cujas fases mudam de um campo para outra com buracos. E depois para um campo de espinhos. Desconhecemos quanta energia ainda nos resta. Estamos todos desidratados, sem água. Nossos parentes nos contam, ao mesmo tempo que corremos, quais os lugares que os terroristas já dominaram e para onde não ir! Gal, o rapaz, usando o Google Maps, nos direciona. Eu grito aos céus, que se há alguém lá em cima, que nos ajude, por favor.
Não vi mais ninguém do nosso carro.
Ao mesmo tempo que corriam, as pessoas ajudavam e diziam para eu não correr sozinha. Moças desmaiavam no caminho e as pessoas me davam de beber.
Esta era a última garrafa d 'água. Todos juntos.
Almi me avisa que está em lugar seguro.Acalmei.
Os tiros, atrás de nós, continuam a soar nos ouvidos, e alguém grita para retornarmos pois existem terroristas à nossa frente. Pensamos que era o nosso fim. Os olhares de todos ainda me doem. Que sorte que não seguimos suas instruções.
Alguém gritou: Olhem à direita e à esquerda e vejam que não estão atirando dos lados. Nos contaram que eles estão em carrinhas brancas.. Todo carro que passa eleva nossa pulsação para 200. Nos encaminhamos para uma base militar que vimos ao longe. Já estamos correndo há 5 horas e não encontramos nenhum esconderijo. Finalmente vemos estufas de plantas. Podemos nos esconder nelas. Entramos no escritório de gesso ao lado. Terroristas ainda estão na região.
Todos estão em choque. Vejo que todo o meu pé está cheio de espinhos e que não posso pisar nele pois estava correndo descalça. Todo nosso grupo ainda está vivo. Todos choram e se abraçam. Não nos conhecíamos há pouco e agora estamos juntos nesta situação difícil. Depois de 3 horas enviaram um guarda com um revólver para nos proteger. Ainda não vieram nos retirar, e todos sabemos que este escritório não resiste nem a meio tiro.
Todos brigam pela carga da bateria do celular. Pessoas andam ao redor fazendo barulho. Eles não podem descobrir que estamos aqui! Gritei que eles estavam nos colocando em perigo. Propus que fizéssemos um jogo para nos conhecermos, para nos tranquilizar. Ainda não estávamos em lugar seguro.
Voluntários do moshav Patish, que não foi ocupado,vieram nos evacuar. Saímos para fora em histeria. Um guarda de fronteira me colocou sobre o carro pois não podia pisar sobre minha perna. Alguém sentada embaixo coloca sua cabeça sobre meus joelhos, outra entre mim e o motorista, que justamente conseguiu fugir de um carro com israelenses que foram todos mortos e somente ele escapou. Atrás muita gente que nem conseguia ver. Sentei na frente ao lado do motorista. Tive medo. Vimos dois rapazes de preto à nossa frente.
Disse a ele para parar. Quem são eles? Ele verificou e disse que estão armados, mas pode ser que sejam “nossos”. Ele avançou e disse para ele verificar novamente. Disse que são guardas. Que estavam conosco.
Acalmei. Ainda não estávamos em lugar seguro. 8 horas desde o começo dos acontecimentos.
Quando chegamos ao moshav e nos disseram que estávamos em lugar seguro,desmoronei.. Não acredito que tínhamos conseguido! Não acredito que isso terminou! Uma família do moshav nos recebeu.Ofereceram bebidas, comida e tomamos banho. Anjos, não tenho palavras.
Entrei em casa apenas com uma pochete e um grande vazio em minha alma.
Eu sei que tivemos sorte por termos sobrevivido.
Einav A.