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Testemunhos de sobreviventes

Leia a seguir

Nem terminei de dizer isso quando vi um terrorista correndo entre os tubos, bem acima de nós!

Eden S.'s story

A última coisa que restou dela é um filme de 4 terroristas que a levaram em uma moto para Gaza

Demorou um pouco para que as palavras pudessem sair de mim.. Aqui está minha estória.


Quem ainda não foi a uma festa da natureza nunca vai entender.


Justamente no lugar mais bonito que existe. Toda festa começa com o fato de sabermos que, de agora em diante, temos pelo menos 10 horas para curtir, sem preocupações. Que é esta a nossa casa no dia de hoje. Justamente lá. Todos descalços, o mais livremente possível. Pessoas bonitas.


Fomos para a festa, estava estranho. Já fazia bastante tempo que nós íamos para festas, não era uma novidade para nós. Mas a energia que lá havia era diferente. Pensamos, quando o sol nascesse ficaríamos bem, que quando os outros artistas surgiram no palco talvez a energia mudasse.Que talvez, quando alguns amigos específicos chegassem o ambiente mudaria, tentamos achar desculpas.


"No final, apenas nós três sobrevivemos de um total de cinco. Começamos o luto antes deste começar."

Meia hora antes da confusão começar estávamos sentado em nossa barraca, eu e minha Naama sentados em cadeiras, Dushi estava deitado sobre uma coberta no chão, e todos em luto. Por tudo que não sabíamos ainda que iria acontecer. No final, apenas nós três sobrevivemos de um total de cinco. Começamos o luto antes deste começar. Este era verdadeiramente nosso sentimento. Nosso estômago doía, não conseguiamos descrever em palavras esta energia.


6 da manhã. O sol nasce, a atmosfera começa a ficar mais divertida e gostosa. Eu e Naama estávamos na pista, um sorriso começa a aparecer… e Bum. A música é interrompida, e começa um outro tipo de música de sirenes, foguetes no ar, ninguém entende o que ocorria, tudo mudou em 180 graus.


Mas recalculamos a rota novamente.


Fomos recolher nossas coisas e esperamos ao lado do carro. É perigoso sair quando tem um alarme de Tzeva Adom ( emergência), disse Inbar, esperamos.



Dria rezou Shma Israel para todos nós. Que cheguemos em paz em casa.


Entramos no carro, e neste momento deu tudo errado.

Se pensávamos que até agora as coisas deram errado, então entendemos que a coisa está ainda pior.

Muito pior.


Éramos cinco no nosso carro. Cinco almas, Cinco universos, cada um recebeu um destino diferente.


Eu e Dria voltamos deste dia vivas, em choque, em choque que estávamos vivas, em choque que estávamos novamente juntos, em choque que conseguimos sobreviver cada uma de seu modo.


Naama ficou no hospital depois de ter levado 3 tiros, e graças a Deus ela está agora em casa recuperando e viva.

Elkin foi morto.


E Inbar… A última coisa que restou dela é um filme de 4 terroristas que a levaram em uma moto para Gaza, não sabemos em que estado.


Entramos no carro e começamos a viajar. Chegamos na entrada para a festa onde encontramos um congestionamento. Entramos e saímos do carro por diversas vezes devido às sirenes de alerta, começamos a escutar tiros, fui uma guarda de fronteira e compreendi que estes tiros não eram únicos, e sim rajadas - e não eram nossos, outras pessoas estão aqui. Em retrospectiva compreendo que os primeiros carros no congestionamento não viajavam pois já estavam todos mortos.


"E Inbar… A última coisa que restou dela é um filme de 4 terroristas que a levaram em uma moto para Gaza, não sabemos em que estado."

De repente, em um instante, escutamos tiros cada vez mais próximos, gritos, e aproximadamente mil pessoas que fogem desesperadamente para trás, incluindo os guardas,e, compreendemos que tínhamos um problema.


Todos corriam em direção à área da festa, pessoas caídas pelo caminho, não tendo como ajudar, simplesmente continuamos a correr. Éramos como patos em um stand de tiro.


Durante a corrida nos dividimos, cada um cuidou de si próprio, eu cheguei ao recinto da festa. Compreendi que estava correndo para o fim da área da festa, e que de lá também vinham terroristas. Tentei ir por outro caminho, mas também de lá nos cercavam.


Pensei que já sabia o que fosse um atentado - pensei que deveria achar um lugar seguro por duas horas. Iriam matar os terroristas e depois poderíamos voltar para o carro.


Ninguém pensou que as dez horas do festival se passavam correndo dos terroristas e rezando sem parar.


Quando chegamos no meio da pista de dança, deitamos eu, Dira e Inbar embaixo do palco, 70 pessoas por 20-30 minutos, tentando permanecer em silêncio. Os tiros se aproximavam, gritos das pessoas e de dor, gritos em árabe. Apenas Deus sabe o que lá aconteceu. Quando outras pessoas entraram, para minha sorte ou azar, cheguei até a extremidade do palco. Meu pensamento neste instante era que eu morreria primeiro ou fugiria primeiro. Dependeria de qual direção o terrorista viria.


De repente o guarda que fazia a segurança do lado de fora gritou para nós: “ Saiam daqui, agora !!!!”


Por sorte estava no lado seguro do palco, simplesmente levantei o pano e saí por lá. Havia uma cerca, e a pulei.Aí comecei a correr, não achei ninguém da minha turma.


Quem permaneceu e não conseguiu sair de baixo do palco, entendi que estava morto… Queria correr para esconder-me nos banheiros, corri e na metade do caminho encontrei um carro. (Compreendi mais tarde que exceto em dois banheiros, todos os demais ocupantes foram dizimados).


"Meu pensamento neste instante era que eu morreria primeiro ou fugiria primeiro. Dependeria de qual direção o terrorista viria."

Corri, e de repente um carro para ao meu lado e grita-me: “Suba”.

Sentei no colo de alguém no assento ao lado do motorista, e outra pessoa sentou sobre mim.

5 atrás e mais 2 no porta malas.


Viajamos em estradas de terra. Chegamos em uma estrada principal e viramos a direita. Depois de viajar 20 segundos vimos ao longe vans com terroristas atirando em nós. O motorista brecou bruscamente e virou o carro na outra direção. Aceleramos de 0 a 200 km/h. Também do outro lado, após dez segundos o mesmo aconteceu, vans com terroristas atirando em nós. Após 4 vezes indo e vindo, decidimos viajar para o norte, e seja o que Deus quiser.


No meio da viagem de repente vimos, ao lado da estrada um terreno baldio, um tanque com 30 pessoas da festa e alguns guardas que viram que estávamos presos no caminho. Gritaram para sairmos porque não era seguro permanecer no carro.Paramos e corremos para eles com as mãos sobre nossas cabeças. Tiros no ar, explosões de todos as direções.


Deitamos no chão embaixo e ao lado do tanque, éramos umas 30 pessoas, um sobre o outro, em um espaço de 3x3 metros , no mínimo, por 5 horas e meia.

Ficamos por lá. Apenas depois de 4 horas conseguiram chegar até nós.


"Terroristas chegavam de todas as direções. Por nossa sorte alguém assumiu o comando, um rapaz corpulento, que gritava a todos o que fazer e decidia."

Tiros no céu, granadas, foguetes RPG, tiros, todo tipo de munição estavam lá, de forma lógica ou não. Começamos a dividir responsabilidades e começamos a falar sobre o que cada um fez no exército em seu serviço militar. Uma foi instrutora nos blindados. Pediram para ela subir e ativar o tanque. Alguém pergunta: “Quem sabe atirar com uma metralhadora MAG?” Alguém pegou a metralhadora para si. “Quem sabe atirar com metralhadora M16?”. “ Quem entende de comunicação” Mas na prática, o rádio não funcionava pois os terroristas tinham dominado as redes.


Um leilão público de auto defesa e sobrevivência.


Estava comigo um guarda chamado Liron e gostaria muito de reencontrá-lo. Durante todas as explosões dizia-me para tirar uma selfie, vamos voltar para casa hoje, tire fotos de lembrança. Gostaria muito de reencontrá-lo! Isto foi o que fiz apesar de estar semi deitada na terra.Fez-me sorrir muito. E aqui embaixo está sua foto.(Ver foto abaixo do texto)


Em retrospectiva, entendi que no tanque em que estávamos deitados debaixo,dois soldados foram sequestrados e dois mortos. Não restava muito, pegamos o que restava da munição e tentamos sobreviver. Terroristas chegavam de todas as direções. Por nossa sorte alguém assumiu o comando, um rapaz corpulento, que gritava a todos o que fazer e decidia.



several pictures Eden took on October 7th

Agora temos quem comanda quando atirar, e, outros que atiram, uns que cuidam dos feridos e o restante rezando para Deus - porque vamos acabar com eles hoje !!!

Que segurança isso nos trouxe! Supervisão divina..


Não houve tempo para chorar em nenhum momento do dia. Tinha que estar focada 100% do tempo na nossa situação, pois a todo momento corríamos para outro local para sobrevivermos. Conversei por vinte segundos com meu irmão mais velho para que me fortalecesse.Deu toda a confiança de que necessitava, e, claro, Ravit, a minha mulher maravilha que durante todo o dia ajudou a me defender e a todos nós. Consegui confortar pessoas ao meu redor, o quanto pude, com um abraço. Convencê-los que hoje ainda estaremos em casa, pois muitas vezes perdíamos a esperança;


Descubro-me deitada no chão abraçada com alguém que está deitado sobre minhas pernas, e. por um longo período, não sinto as pernas. Sentia como se houvesse uma necrose em meus dois joelhos, até que pedi que me ajudasse a levantá-las para o outro lado. Atrás de mim fazia carinho na face de alguém que recebeu um tiro na mão. Tentava sobreviver junto com todos.


"Por debaixo do tanque e de outros lugares, retiramos roupas e as cortamos para transformá-las em torniquetes."

Tiros. Explosões. A cada alguns minutos alguém que estava deitado nas extremidades da área composta por nossos corpos levava um tiro no corpo. Por debaixo do tanque e de outros lugares, retiramos roupas e as cortamos para transformá-las em torniquetes. Quem sabia aplicava os torniquetes. Restava ainda rezar. Mais um pouco e estaremos fora. Gritos de moças gritando: “Mamãe”! de medo de terem o corpo perfurado por balas. Gritos de dor e medo que não existiam em nenhum filme de terror.


Escutei cada explosão e tiro, e não sabia se eram nossos. Se não fossem nossos, será que me feriria? Não sabia direito onde estava e ao mesmo tempo sabia exatamente onde me encontrava. Estou morta? O que acontece comigo?

Nunca rezei em minha vida com neste dia. E não apenas eu, todos nós.

Pode ser que minha vida termine assim. Precisam de mim em casa. E ainda quero ter minha própria casa.


A munição foi se acabando. Restou alguns revólveres e a metralhadora MAG. Guardas prenderam alguns terroristas atrás de nós, e por sorte eles se renderam e jogaram suas armas. Depois de um certo tempo, o guarda começou a patrulhar a área com uma metralhadora Kalashnikov, apreendida de um terrorista, caso necessite atirar, pois não tínhamos mais munição para nossas armas mais potentes.


Depois de 4 horas de rezas profundas para que possa voltar hoje para casa, esta não era uma crença e sim um fato, chegou o primeiro jipe do exército. E depois chegou outro. Exatamente como imaginei. Os soldados da patrulha de fronteira chegaram com uma garrafa de água para todos, e balas toffee.


De repente, o exército tomou conta de todo o espaço. Helicópteros no ar, outros 4-5 jipes, unidades especiais, retirada de feridos, pessoas que sofreram de hemorragia por várias horas.


Trouxeram-nos água, balas e oxigênio. Começaram a nos defender pois todos que lutaram ao nosso redor necessitavam descansar e respirar. Todos os participantes da festa que tinham se transformado em guerreiros, foram substituídos por soldados.


Descobri em mim muitas capacidades e forças, que me salvaram, segundo me foi explicado. Sentia como uma marionete, toda vez que corria, simplesmente puxavam-me de cima e olocavam em um lugar mais seguro. Qualquer outra decisão parcial teria terminado de forma completamente diferente.

Tentem no meio de tudo isto ainda atender o telefone e dizer que tudo estava em ordem e que estávamos vivos.

Enquanto nada estava em ordem…


"... vi muitos corpos de terroristas, guardas, civis e carros jogados por todos os lugares."

Encontrei no caminho muitas pessoas especiais, aquelas que me ajudaram, e aquelas que continuam a nos iluminar de um modo diferente, mesmo que não irão retornar. Obrigado a todos que me protegem. Obrigado por todo o cuidado celestial que me foi enviado de diferentes formas.


5 horas e meia depois de termos chegado ao tanque, eu e outras 3 pessoas fomos evacuados em um carro policial particular. Pediram-nos para inclinar nossas cabeças, não vou mentir, dei uma olhada ao redor, vi muitos corpos de terroristas, guardas, civis e carros jogados por todos os lugares. Muita destruição, mas ainda via a providência divina que me permitiu sobreviver a isso.


Encontramos no caminho o corpo de uma guarda. Pararam para o colocarem para dentro do carro, para que não fosse sequestrado. Não conseguimos lidar com isso, assim pedimos que nos deixassem de fora e que continuassem em seu trabalho sagrado. Que Deus me perdoe. Mas, assim aconteceu.Deixaram-nos em um posto de gasolina. De repente vi um amigo do mercado, que já esqueci seu nome, dentro de um carro. Nos colocaram no porta malas e assim levaram até a polícia de Ofakim, um lugar seguro. Andando com dificuldade sem sentir as pernas, apenas com arranhões azuis e um pouco de sangue. Isto era insignificante perto do que poderia ter acontecido. Entendi que este era o momento de procurar por minhas amigas e tentar descobrir o que aconteceu com elas.


Estou viva. Estou viva. Obrigado pela nova vida.



Eden S.

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